Eu vivo comentando por aqui todas as peripécias que enfrento para oferecer mais conforto e segurança ao Paçoca, mas acho que hoje, no Dia do Cachorro, é um dia bem apropriado para eu falar um pouquinho mais sobre isso né? À convite da BitCão vim contar um pouquinho da minha experiência com o Paçoca. :)
Se você não sabe, vou contar a história desde o começo. Se prepara, puxa a cadeira, pega uma xícara de café que a história é longa! haha
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O Paçoca tem pouco mais de 5 anos de idade e veio morar comigo quando era bem filhotinho, acho que tinha uns 45 dias. Fazia pouco tempo que a Dolly, a poodle que estava comigo desde meus 9 anos, tinha ido para o céu dos catioríneos e a ausência dela tinha me deixado bastante chateada. Quando vi que estavam doando uns cachorrinhos aqui pertinho de casa, nem pensei duas vezes.

Logo no primeiro dia, eu já tinha percebido que o Paçoca era um cachorrinho mais quietinho e medroso. Em todas as experiências anteriores, quando eu trazia um cachorrinho aqui pra casa, em menos 5 minutos o bichinho já tava zanzando pela casa, bem independente e faceiro. O Paçoca não era assim, ele ficava mais receoso, quase não saía de perto de mim e não queria explorar o novo ambiente. No início, achei isso ótimo pois “quem não quer um cachorrinho comportadinho, que não fica querendo revirar a casa de ponta cabeça, né?”. Quando eu levava ele na pracinha, eu podia deixar ele solto pois ele nunca, nunquinha saía de perto e eu também achava isso ótimo!
O problema é que eu só comecei a levar o Paçoca para passear depois que ele tinha terminado de tomar todas as vacinas, que foi lá pelos 4 meses. Eu achava que não podia sair antes das vacinas, o que agora eu sei que pode (e deve) desde que você carregue ele no colo para evitar contaminação. E que é muito importante fazer a socialização do cachorro com pessoas, animais e barulhos antes dos 2 meses, coisa que eu também só fui descobrir beeem depois.
Na época que eu levava ele na pracinha, aconteceram diversas situações traumáticas pro Paçoca, por exemplo:
1. Uma vez tinha uma menininha de uns 9 anos de idade que queria brincar com o Paçoca. Mas ela era tipo a Felícia, que ficava segurando o bicho de qualquer jeito, apertando/abraçando/esmagando o coitado. Até a hora que eu vi o Paçoca mostrar os dentes e ele nunca mais quis que uma criança chegasse perto dele.
2. Outra vez, chegou uma mulher na pracinha com os cachorros todos soltos, era um Golden e dois Bulldog Inglês. Os cachorros eram muito, mas muito maiores e vieram correndo, quase galopando em direção ao Paçoca que ficou a-ter-ro-ri-za-do com a situação. Nunca mais ele deixou um cachorro se aproximar dele.

Resumo da ópera: Um cachorro medroso que não foi socializado na época certa e de maneira adequada, se tornou um cachorro extremamente desconfiado que usa a agressividade para afastar as coisas que ele tem medo. Quando eu digo “agressivo”, é agressivo MESMO. Se uma pessoa estranha chegar perto dele é 100% certo de que ele vai morder e atacar, não existe nem chance da pessoa mostrar que veio em missão de paz. :S E aí, minha gente, isso é algo que venho tentando resolver desde então:
TENTATIVA 1:
A primeira coisa que fiz foi levar o Paçoca para castrar, lá pelos 6 meses. Eu tinha ouvido falar que isso poderia atenuar a agressividade já que ele seria menos territorialista. Para a agressividade, isso não fez lá muita diferença, mas a vantagem da castração quando é bem novinho é que ele não fica fazendo xixi para demarcação e não levanta a pata de trás, fazendo xixi somente no chão (e não na parede).
TENTATIVA 2:
Logo após a castração acabei me interessando pelo adestramento. Nessa época, que foi mais ou menos quando o Paçoca tinha uns 8 meses, eu chamei um adestrador profissional para conversar. O cara era muito bom, ele trabalhava adestrando os cães da polícia militar e conseguiu ficar amigo do Paçoca em menos de 3 minutos. Ou seja, o cachorro passou de “quero te matar” para “fique à vontade, a casa é sua” em menos de 3 minutos (!!!). Porém, na época, pagar R$75/aula (uma aula por semana) ficava um pouco pe$ado pra mim e acabei desistindo da ideia. :(
Daí eu resolvi ensinar as coisinhas por conta própria e, sim, houve uma época em que eu fiquei absolutamente obcecada pelo assunto. E foi nesse período que eu consegui ensinar quase todas as coisas que o Paçoca sabe fazer hoje. Segue a lista de truques completa e atualizada:
– Sentar
– Deitar
– Rolar
– Dar a pata
– High-five
– Levar um tiro ou fingir de morto
– Girar no sentido horário e anti-horário
– Ficar esperando
– Ir para a cama dele
– Passar entre as minhas pernas fazendo um 8
– Procurar algum objeto que eu escondi
– Trazer um brinquedo quando eu falo “cadê o osso?”
– Devolver a bolinha que ele foi buscar
– Comer somente depois que eu falar “pode”
– Não comer ou não pegar um objeto se eu falar “não”
Você pode ver um vídeo aqui. Vou tentar fazer um novo vídeo com melhor qualidade e com mais truques, me mande mensagem de motivação. ;)
TENTATIVA 3:
Quando o Paçoca tinha uns 3 anos, resolvi contratar um adestrador novamente para resolver especificamente o problema da agressividade. Aprender comandinhos e truques era legal, mas de que adiantava o Paçoca saber fazer tantas coisas se eu não podia mostrar pra ninguém e se ninguém podia chegar perto, né? Peguei o contato de um cara num pet shop aqui perto de casa, ele cobrava R$25/aula e vinha duas vezes na semana. Fizemos aulas por 3 meses e eu simplesmente não vi melhora alguma. Foi aquele típico “barato que saiu caro”! Pra você ter uma ideia, em 3 meses o cara não conseguiu “ficar amigo” do Paçoca. O cachorro até tolerava ele, mas tinha que ficar longe, quase de castigo no outro canto do quintal. Isso me deixou bastante frustrada pois eu não sabia se isso era incompetência do cara ou se era porque o Paçoca não tinha mais solução.
TENTATIVA 4:
Agora com 5 anos, resolvi fazer uma nova tentativa com um novo adestrador, optei pela Cão Cidadão pois leva o “nome” do Alexandre Rossi na empresa e achei que isso poderia ser um parâmetro de qualidade. Eu estava bem cética e com o pé atrás por conta da experiência anterior. Mas na segunda aula, o Paçoca já tinha virado amigo do Maurício (hoje em dia eles são BFF haha). Após 4 meses de treinamento, ainda estamos longe do comportamento ideal, mas já tivemos alguns avanços. Posso levar o Paçoca na pracinha, com várias pessoas, crianças brincando e outros animais por perto e ele fica bem tranquilo e relaxado. Ainda não dá para as pessoas se aproximarem ou encostarem nele, mas acredito que seja questão de tempo e paciência para ele começar a tolerar e superar cada vez mais seu medo e perceber que as pessoas/animais ao seu redor não são ameaças. :)
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Por que eu estou contando toda essa história? Porque durante todos esses anos várias pessoas (que viram o trabalho que o Paçoca me dá) já comentaram comigo:
– Nossa, o Paçoca tem muita sorte de ter uma dona como você! A maioria das pessoas já teriam o abandonado, se livrado dele! Ninguém ia ter tanta disposição para resolver esse problema!
– Como assim?
Muitas pessoas não analisam com atenção todos os problemas que um animalzinho pode trazer. Eu mesma não analisei quando decidi trazer o Paçoca pra casa. Claro que eu sabia que adotar um cachorro exigiria algumas responsabilidades como cuidar da higiene e limpeza, cuidar da alimentação, dar atenção e carinho ao animal, etc. Mas nunca tinha passado pela minha cabeça que eu pudesse ter que resolver outro problema bem mais difícil e complicado como a agressividade. É algo que a gente não prevê, mas se o problema aparecer temos que ter o compromisso de resolver a situação. Abandonar o animal na primeira dificuldade não pode ser considerada uma opção.
Quem convive comigo sabe que, pra mim, não é nada fácil lidar com um cachorro anti-social. É uma preocupação constante, muito desgaste físico e emocional, fora os gastos financeiros. Apesar de tudo isso, eu sei que tenho um cachorro extremamente fiel e companheiro, que está sempre disposto a brincar e interagir comigo, que espera ansiosamente pela minha chegada, que só enxerga minhas qualidades e gosta de mim acima de qualquer coisa. E tudo isso compensa o esforço que tenho feito para melhorar a qualidade de vida, tanto minha quanto a do Paçoca.
Cuidar de um animal é isso, o amor incondicional precisa vir dos dois lados. Se não for assim, nem comece. ;)
